#04 CASTEVENS: O CANTOR QUE ENCONTROU DEUS

Cat Stevens é um cantor e compositor britânico conhecido por suas lindas canções folk e também por sua história enigmática no mundo da música.

Além de uma carreira de sucesso, muitos discos aclamados, canções conhecidas no mundo todo, ele tem duas passagens místicas que definiram o destino de sua carreira musical e de sua vida também.

A primeira delas ocorreu quando ainda era um jovem artista no final dos anos 60. Cat já havia gravado 2 discos e alcançando algum sucesso. Ele despontava como um artista Pop. Neste período suas canções eram super produzidas, com gravações orquestradas e arranjos muito rebuscados e cheios de metais e cordas, algo que não o agradava tanto e que era imposto pelos executivos e produtores de sua primeira gravadora.

No ano de 1969 Cat Stevens contraiu tuberculose chegando a ficar em um estado gravíssimo. Ele teve que ser internado por diversos meses e se afastou de seus compromissos profissionais por mais de um ano. Foi neste período longe dos holofotes que ele começou a questionar sua espiritualidade e também o tipo de som que ele estava fazendo. Ali, pelo menos 40 musicas foram escritas, com letras muito mais profundas e voltadas para o estilo que era a sua essência: a Folk Music. Essa nova maneira de se apresentar, valorizando instrumentos acústicos e arranjos mais simples foi que o levou ao sucesso mundial. Ele conseguiu sair de sua antiga gravadora e buscou novos parceiros que acreditassem nesse novo estilo, muito mais próximo do artista que ele realmente acreditava ser.

Seus 3 próximos álbuns, lançados pela Island Records entre 70 e 71, foram baseados nestas canções e alcançaram o topo das paradas pelo mundo.

Mona Bone Jakon, Tea for the Tillermann e Teaser and the fire Cat trazem a maioria de seus sucessos consagrados tais como “Wild World”, “Peace Train”, “The Wind”, “Father and Son”. O álbum Tea for Teh Tillermann é considerado sua obra-prima e está entre os maiores álbuns de todos os tempos.

Cat Stevens traçou uma carreira de sucesso estrondoso, seguindo o caminho que a maioria dos artistas normalmente segue. Muitos shows, compromissos profissionais, bajulação, fortuna e fama. No final da década de 70, já desgostoso com as obrigações que a gravadora lhe impunha, cansado das viagens e da vida de excessos, seus discos já não mostravam o brilho apaixonante dos primeiros álbuns. Suas canções, por vezes, mostravam uma frustração com o mundo material, o que comercialmente não era positivo.

Num dia de sol, quando passava o fim de semana numa casa em Malibu, Los Angeles, Cat resolveu se afastar das pessoas e dar um pulo no mar, sozinho.

Ele foi nadando e se refrescando, distraído, para espairecer. Quando se deu conta, o mar estava mais agitado e ele estava longe da praia. Ele olhou para a casa onde estava hospedado e ela estava pequenininha no horizonte. Percebeu que por mais que ele se esforçasse para voltar, a correnteza não o permitia se aproximar da praia. Pelo contrário, ela estava o levando para mais longe.

Ele nadou por um longo tempo até começar a se sentir esgotado e perder as forças para lutar.

Quando já estava prestes a desistir e se entregar ele buscou em sua fé a última cartada.

Fechou os olhos e gritou, com toda sua verdade, que se Deus o ajudasse a voltar ele trabalharia para ele pelo resto de sua vida.

Como num passe de mágica as ondas começaram a mudar o sentido e o empurrar de volta para a praia. Naquele momento ele percebeu um sentido maior em sua vida, a luz que ele tanto buscava em suas canções ficou muito mais clara. Esse encontro com Deus e com a morte intensificou sua longa busca por sua verdade espiritual.

Algum tempo depois seu irmão mais velho lhe deu o Livro Sagrado do Alcorão. Ele se identificou imediatamente com suas palavras, seus ensinamentos.

A partir dali ele terminou de cumprir seu contrato com a gravadora, a quem ele se sentia terrivelmente preso, e se afastou definitivamente do mundo da música. Ele aposentou seu violão e se propôs a não mais ouvir, tocar ou cantar pop music.

Ele se casou e criou uma família seguindo o Islamismo, religião que passou a respeitar e tomar como sua.

Durante 30 anos Cat Stevens, agora com seu novo nome Yusuf Islam, se dedicou a sua família, à prática religiosa, à educação de crianças necessitadas e diversas outras causas humanitárias.

Um dia, por volta do ano de 2005, já beirando os 60 anos, com filhos e netos, ele estava andando por sua casa quando se deparou com um violão. Seu filho o perguntou se ele não tinha saudades e ele pegou o instrumento em suas mãos novamente.

A vontade de tocar as músicas ocidentais que o acompanharam na juventude reacendeu, sempre incentivado por seu filho. Aos poucos ele foi se readaptando ao instrumento, se arriscou a escrever novos versos, tocar antigos acordes, e foi se reaproximando de seu talento natural e do Folk.

Em uma entrevista à revista Rolling Stone em 2006, quando acabava de retornar após um hiato de 30 anos, ele afirmou: "Encontrei o lar espiritual que procurei durante a maior parte da minha vida. E se você ouvir minhas músicas e letras, como "Peace Train" e "On The Road To Find Out", elas mostram claramente meu anseio por direção e o caminho espiritual que eu estava percorrendo."

Em março de 2006, Cat terminou de gravar seu primeiro álbum pop totalmente novo desde 1978. O álbum An Other Cup foi lançado internacionalmente em novembro de 2006 por seu próprio selo. Cat Steven estava de volta!

Desde 2014 Cat é membro do Rock’n’Roll Hall of Fame.